Olá amigas queridas,
seguidoras do Lady Chic, feliz terça feira para vocês.
Hoje vamos falar de cura
do câncer e de autoestima.
O crédito é do site Delas
por Fernanda Aranda, iG São Paulo.
A autora nos diz que: “Não
há como vencer o câncer de mama sem autoestima”
Vejamos os detalhes.
Graviola e solidão foram
as únicas respostas que os sites de busca da internet mostraram para Flávia
Flores, 35 anos, quando procurou pelas palavras “quimioterapia e beleza”. Ela
recorreu ao computador para tentar encontrar um caminho “mais belo e menos
árduo” para a doença descrita em seu prontuário médico. Ao clicar no botão
"pesquisar", se sentiu sozinha. Surgiram na tela apenas algumas
receitas, nada científicas, sobre um fruto supostamente poderoso para vencer o
câncer. E só.
“Estava arrasada,
deformada de tanto chorar. Queria encontrar dicas para ficar mais bonita, sair
de casa e dizer aos meus amigos que eles não precisavam continuar afastados por
não saberem lidar com alguém com câncer de mama como eu”, lembra Flávia sobre o
processo enfrentado no final de 2012, quando descobriu a doença.
'We Can do It' (Nós
podemos!): A luta de Flavia Flores contra o câncer de mama tem como arma os
pincéis de maquiagem, cílios postiços e outros embelezadores. Foto: Edu
Cesar1/10
“Não achei absolutamente
nada no mundo virtual.” No monitor, os resultados para a busca sobre beleza
foram sucos de graviola, supostamente bons para quem tem câncer. “Umas misturas
surreais, dois litros d’água para cada polpa da fruta. Não havia nada sobre o
propósito de ficar bonita durante um tratamento penoso, mas necessário para
minha cura”, lembra.
Troca-troca
Flávia Flores não ficou
satisfeita e teve um estalo. Ela, produtora de moda de Florianópolis, estava
cansada da rotina fashion “por achar tudo muito fútil”. Mas, quase por ironia
do destino, foi nos acessórios que encontrou um mote para superar o tumor mais
numeroso entre mulheres brasileiras: são 52 mil novos casos por ano, segundo
dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Ela decidiu então trocar
as informações virtuais dispersas sobre a graviola, por aquilo que estava
perdido na nécessaire e no armário. Tratou de buscar o batom, blush, base,
lenços coloridos e perucas divertidas.
“Fiz uma página no
Facebook com dicas práticas para mulheres com câncer de mama que, assim como
eu, não querem abrir mão da vaidade neste processo de enfrentamento da doença”,
diz ela sobre o endereço eletrônico ‘Quimioterapia e Beleza’ criado há três
meses. Até a última semana, a página já colecionava mais de 15 mil seguidores.
Montanha russa
O alerta para Flávia veio
durante o banho. O carocinho no seio esquerdo chamou a atenção, mas não causou
desespero. Jovem, sem casos de câncer na família, ela mantinha hábitos
saudáveis, com exercícios e dieta adequada. Nada indicava estar no alvo do
câncer. Fez o exame de ultrassom e a mamografia sem peso na consciência.
Descobriu por meio dos exames que estava na hora de trocar a prótese de
silicone colocada havia dez anos. Marcou a cirurgia plástica e, por cautela,
tirou o nódulo para avaliação da biópsia.
“Não era medo de morrer
que aquela notícia me trazia. Era uma sensação de perder o domínio do corpo. E
pode parecer besteira, mas temi pelos meus cabelos.
Quinze dias depois, ao
ouvir do oncologista e do cirurgião plástico que aquela ondulação mamária era
um tumor maligno, e que seria necessário tirar as duas mamas devido ao estágio
avançado da doença, Flávia Flores caiu no chão do consultório.
“Minha vida sempre seguiu
trilhos de montanha russa. Quando tinha 12 anos, meus pais se separaram. Aos
14, engravidei e virei mãe enquanto só pensava em andar de patins. Aos 20, fui
estudar na Califórnia e acabei deportada, por falta de visto. Aos 30, meu
casamento de seis anos terminou. Agora, aos 35, o diagnóstico de uma doença tão
cruel”, pontua sobre as fases baixas da vida.
“Não era medo de morrer que
aquela notícia me trazia. Era uma sensação de perder o domínio do corpo. Seria
mutilada... E pode parecer besteira, mas temi pelos meus cabelos”, diz citando
os fios castanhos naturais, crescidos até a cintura e volumosos, a marca
registrada desde adolescente.
Era certo que, em algum
momento durante as 20 sessões de quimioterapia prescritas para começarem no
início de dezembro de 2012, a cabeleira cairia. “Não sabia o que fazer”,
rememora.
Flávia então chorou. Por
10 dias. Sozinha, só com o apoio da mãe e do filho Gregório, já homem com 20
anos. Os amigos e outros parentes haviam desaparecido "por não saberem
lidar com a minha doença", avalia.
A força da beleza
Flávia cansou do novo
baixo da vida. Atentou que estava na hora do carrinho da montanha russa pegar o
embalo necessário para a subida. Já havia feito duas sessões de quimioterapia e
ficou com vontade de dizer aos quatro cantos que estava viva, queria passear,
sair com as amigas, paquerar, ver o mar.
Para isso, precisava sair
de casa. “Só que por mais disposta que eu estivesse, a quimioterapia fragiliza
demais. Estava pálida, cabelos ralos, enjoada, sem cílios. Quis ficar bonita.
Corri para internet. Encontrei a graviola”, diz rindo.
Edu Cesar
"Estou encantada pelo
estilo curto e nuca à mostra. Acho que não quero mais cabelão"
Flávia encarou o vazio
como um chamado. “Trabalho com moda desde os 15 anos, fazendo produções, já fui
modelo e estava cansada do ego e da vaidade do meio. Então, veio o clique.
Estava na hora de colocar os meus conhecimentos em favor da saúde”, lembra.
Ela fez a página do
Facebook com a intenção de trazer os velhos amigos, que haviam se afastado,
para perto. Mas descobriu que havia uma legião de pessoas com câncer,
desconhecidos até então, que queriam informações sobre maquiagem, como amarrar
os lenços, escolher o look certo para a festa de formatura, mesmo estando
careca.
“Coloquei a mão na massa.
Hoje, todas as dúvidas que recebo levo aos meus médicos e faço testes. Por exemplo,
testo se o lápis A ou B é melhor para desenhar a sobrancelha, coisas assim”,
diz. Garimpa estilos nas lojas, pesquisa cosméticos mais adequados, dá dicas
sobre depilação quando os pelos voltam a nascer e posta tudo na internet.
Hoje, seis meses após detectar
que fazia parte das estatísticas do câncer de mama do País, o medo da queda dos
cabelos virou uma memória afetiva que Flávia não quer esquecer.
“Quando decidi cortar o
cabelo, minha ideia inicial era usar os fios para fazer uma peruca natural para
mim. Fiz um vídeo ensinando como cortar as madeixas sem danificá-las para
aproveitar depois”, conta Flávia. “Mas no dia seguinte, com 24 horas de cabeça
pelada, recebi pelo Facebook um relato de uma menina que tinha perdido a
vontade de viver, porque o câncer havia tirado seus cabelos.”
Pelo correio, Flávia
mandou seus cabelos à amiga virtual, que os transformou em uma peruca. Para
ela, restaram os lenços que adora, as perucas baratinhas que divertem e uma
nova paixão. “Estou encantada pelo estilo curto e nuca à mostra. Acho que
cabelão, do jeito que eu tinha antes, não quero mais.”
Mistura
Aos críticos que
consideram a mistura de beleza e quimioterapia uma alquimia improvável como
suco de graviola e câncer, Flávia Flores responde com a própria experiência.
“Não há como vencer o
câncer de mama sem autoestima”, diz enquanto realça os olhos com sombra escura
e passa rímel preto nos cílios postiços - um de seus toques sugeridos para
combinar com a careca e driblar a queda de todos os pelos do corpo, sequela do
tratamento que aos poucos é vencida.
“Eu me sinto muito mais
forte e disposta depois que voltei a olhar o espelho com ternura e a cuidar de
mim. Ainda tenho um ano inteiro de quimioterapia pela frente. Mas estou com
força total. Meus exames confirmam isso”, diz ao retocar o batom, finalizando a
produção para encontrar os amigos e o novo namorado no bar.
Um beijão no coração de
Flávia Flores e em todas as gatas que nesse momento travam essa luta dolorida
contra o câncer. Bola pra frente meninas que a vida urge.
Lady Chic
Por
Beth Vasconcelos
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