terça-feira, 19 de junho de 2012

POR QUE EU GANHO MENOS QUE ELES?


Olá amigas do Blog, saúde e prosperidade para todas.

Hoje nosso encontro apresenta um artigo do site Delas, texto de Carina Martins, iG São Paulo, sobre o tema: Por que eu estudo e trabalho mais, mas ganho menos?

A autora diz que em todo o país, e em todas as categorias profissionais, as mulheres ganham menos do que os homens. Por quê?

A noção de que as mulheres ganham menos do que os homens é tão antiga quanto a chegada delas ao mercado de trabalho. Mas desde que os direitos passaram a ser iguais para todos, essa ideia muitas vezes se abstrai em estatísticas que dificilmente levam alguém a identificar-se individualmente. Afinal, se o empregador não corta fora deliberadamente um naco do contra-cheque toda vez que o RH decide que a contratada é uma moça, como explicar essa diferença? E como saber se ela existe mesmo?

Indicadores sociais divulgados pelo IBGE em 2009 mostram a discrepância entre a média salarial de homens e mulheres

Primeiro, as estatísticas. Elas são bem claras: em todo o país, e em todas as categorias profissionais, as mulheres ganham menos do que os homens. E não é um pouco menos: considerando-se a média salarial nacional segundo o IBGE, eles recebem quase 40% a mais que elas (veja quadro).

Até mesmo no segmento dos empregados domésticos, que é quase totalmente feminino, os homens ganham mais. Até mesmo na categoria de empregadores, em que não há um patrão responsável por definir a remuneração, as mulheres ficam atrás. Até mesmo no funcionalismo público, em que as vagas têm seus salários publicados oficialmente antes de serem preenchidas, e a escolha dos contratados é feita por concurso, o rendimento é menor.

Por quê?

Os caminhos que levam à discrepância são menos claros que os números. Grosso modo, segundo especialistas, dá para dizer que as escolhas profissionais femininas são influenciadas por aspectos culturais que acabam afetando, entre outras coisas, seu rendimento. A ideia de que existem carreiras mais “femininas” que outras, e a divisão de dedicação entre vida profissional e maternidade estão entre elas.

“Mesmo com o grau de escolaridade mais alto, a discrepância entre homens e mulheres no mercado de trabalho seguem elevadas.

As mulheres têm o rendimento menor que os homens e ocupam condições de trabalho não tão adequadas quanto as deles”, diz Cimar Azeredo gerente de integração da pesquisa mensal de empregos com a pesquisa nacional por amostras de domicílios do IBGE. “A maior parte dos dirigentes e gerentes são homens no contexto geral. Os dados mostram que existe uma participação maior deles nos grupamentos que pagam mais caro”.

É exatamente nos números sobre cargos de dirigentes que fica clara a existência de uma barreira no avanço feminino. Há uma etapa que as mulheres simplesmente não transpõem. A diferença no índice de ocupação geral entre homens e mulheres vem caindo de forma gradativa.

Mas nos números de quando essa ocupação se dá em cargos de chefia (que o IBGE chama oficialmente de dirigentes), essa tendência não se repete. No topo da pirâmide profissional, a distância entre eles e elas continua rigorosamente a mesma - 5,6% dos homens trabalhadores eram dirigentes contra 4,1% das mulheres em 2003; cinco anos depois, eles subiram para 5,9% e elas para 4,4%. Ou seja, mais trabalhadores são chefes hoje, mas a diferença entre homens e mulheres não diminuiu um centímetro neste caso.

“Em média, a mulher tem mais escolaridade que o homem. Mas no mercado de trabalho, perde na indústria, nos serviços, na área de educação. Ela acaba perdendo participação até por uma questão cultural mesmo, de os grupamentos que pagam mais serem mais atrativos para os homens.

Por exemplo, engenheiros da área do petróleo. Quantas mulheres se formaram engenheiras e se interessaram por essa área? Será que elas não preferiram psicologia?”, questiona Cimar.

A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Cristina Bruschini explica: “Há diferenças importantes, como uma concentração feminina em determinadas áreas que não têm tanto prestígio.

As mulheres encontram mais dificuldade nos guetos ocupacionais, ou seja, nas atividades consideradas masculinas, que muitas vezes são também as que remuneram melhor”. Para ela, as mulheres não se encaminham para essas áreas menos valorizadas: são encaminhadas.

“Elas se sujeitam porque é uma coisa cultural, de formação de identidade. Na escola, na família, aprendem que existem tarefas mais femininas e outras mais masculinas. Isso vem desde cedo, quando, por exemplo, trepar em árvore é coisa de menino e lavar louça é coisa de menina”.

A questão de formação da identidade ajuda a explicar muitos dados, inclusive um dos mais intrigantes: por que as mulheres ganham menos mesmo quando são as responsáveis por sua remuneração, ou seja, quando são empregadoras? Para os especialistas, é quase sempre uma questão da escolha do tipo de empreendimento – mulheres tenderiam a abrir negócios também “femininos”, como salões de beleza. Nada a ver com a qualidade de seu desempenho na função, portanto.

Carreira x maternidade

Escolher um caminho “feminino”, no entanto, vai além de preferir uma carreira de humanidades ou uma loja de velas perfumadas. A identidade cultural aliada a questões bem concretas e cotidianas fazem com que a mulher se sinta obrigada sim a escolher entre carreira e maternidade. E se por um lado as opções muitas vezes não são excludentes, por outro quase sempre significam um limite na dedicação possível a uma ou outra.

Um estudo realizado pelo Dieese em seis regiões metropolitanas brasileiras mostra que o rendimento da mulher é afetado significativamente se ela é casada e tem filhos. Para pior. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o estudo aponta que mulheres que vivem sozinhas têm um rendimento médio de R$ 8,98 por hora, mais do que os R$ 6,91 das que vivem com um companheiro, mas sem filhos. Quando além de marido elas também têm filhos, o rendimento cai para R$ 5,89, superior apenas aos das mães que cuidam dos filhos sem um companheiro: R$ 5,39.

Bruschini acredita que essa tendência se confirma também nas demais regiões do país. “O que mais conta aí é maternidade e filhos pequenos, não tanto viver em uma situação conjugal”, diz, reforçando que a “mulher” das estatísticas é sempre um ente genérico numa colcha de retalhos de possibilidades. “As mulheres têm noção de que vão ter uma dupla jornada no futuro.

Se terão que fazer as duas coisas, elas já procuram a que exige menos. Na medicina estão na pediatria e não estão na cirurgia cardíaca, por exemplo. É meio que uma percepção da realidade”, afirma. Partir do princípio de que se quiserem ter uma família, não poderão se dedicar de forma integral ao trabalho, explica a barreira que mantém as mulheres longe dos cargos de gerência.

Apesar de tudo, tem havido um crescimento no mercado de trabalho de mães. “Mais por uma mudança sensível na identidade feminina mesmo – na escolaridade, no desejo das que podem desejar. As mulheres não querem ficar mais no espaço doméstico”, acredita Bruschini.

Para ela, a conciliação entre família e carreira pode ganhar força com investimentos em duas esferas: pública e doméstica. “Investir infinitamente em creches e escolas em tempo integral, com horários compatíveis com os das trabalhadoras. E investindo em campanhas para incentivar os companheiros nos cuidados das crianças. Ou seja, não só cumprindo a legislação, mas também ampliando”.

Discriminação

A história do patrão que oferece um contra-cheque mutilado a suas funcionárias pode não ser a regra, mas não significa que não exista. “Essa diferença não deve ser só preconceito a essas alturas do século 21, embora tenha um restinho que seja”, admite Bruschini.

Partilhando a mesma tese, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) propôs um projeto de lei que leva para até vinte vezes o salário da trabalhadora a multa administrativa aplicável a empregadores que pagarem valores diferentes para uma mesma função.

“Quando Obama assumiu e anunciou que ia mandar uma lei para o Congresso garantindo igualdade salarial entre homens e mulheres, causou um frisson no planeta. Então lembrei que nossa legislação já prevê esse tratamento igualitário às mulheres, mas precisava de reforço”, afirma a senadora.

O projeto está atualmente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e recebeu em dezembro o apoio e um acréscimo da ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. “Este ano nossa grande expectativa é a aprovação no Congresso Nacional da Lei da Igualdade no mundo do trabalho”, afirma a ministra.

“Nós esperamos fazer audiências públicas em todo o Brasil discutindo essas questões, porque as condições que as mulheres se encontram no mercado de trabalho ainda embutem uma série de discriminações, inclusive do ponto de vista remuneratório e de direitos”.

A senadora não acredita que uma lei mais rígida possa acabar tendo o efeito contrário, ou seja, que empregadores possam evitar contratar mulheres com medo de processos. “Já foi o tempo em que a gente ficava retraído e com medo. Pode ter um caso ou dois, mas acredito que não”, diz Serys. “Se não vão pelo amor, vamos pela dor”

Um abraço para todas e até amanhã.

Lady Chic

Por

Beth Vasconcelos

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